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a sentinela.


Por hora,a casa amarela no fim da rua parecia transparente,mas o sangue que corria nas veias de quem ali morava ardia e reluzia como fogo,ninguém via,ninguém sabia,mas há decadas a pequena casa amarela sabotava os perspicazes soldados,sangues judeus pulsavam ali há anos sem que ninguém sequer desconfiasse,imensos olhos se espreitavam em meio as frestras,trêmulos e saltitantes cada vez que o batucar das botas tomava a rua,sempre considerei aquilo meramente digno de um filme,a sábia nação alemã sendo enganada por quatro gerações de judeus,no mínimo heróico.
Apesar de tanto,agora só restavam poucos,não eram necessariamente parentes de sangue,eram refugiados,por uma mulher e meia,a mulher era a mãe,a meia mulher a filha,16 invernos sem muita cor,apenas o imenso clarão do sol apontava e conversava com a menina,mas apesar dos apesares,era feliz ou achava que era,pois sem conhecer muito do mundo não há como definir felicidade em palavras. Pelas manhãs o quarto onde dormia com a mãe se transformava numa imensidão de sonhos lavados pelo sol,grande observadora,inteligente apesar de limitada,imaginava com grandeza o que havia lá fora,gostava de pensar como seria pisar na grama verde e brilhante que havia lá embaixo. Mas não podia,era risco demais,e seus sonhos se desmanchavam quando lembrava de sua tarefa;vigiar a rua. Nunca reclamou de tal,nunca achou ruim a ponto de desobedecer as ordens da mãe,na verdade era quase um prazer poder ficar ali imaginando o mundo e teoricamente salvando as vidas que se exprimiam no porão de sua casa. O mundo que imaginava em sua cabeça era bem melhor do que o real.
Mas se nem mesmo paredes foram capazes de impedir que a jovem menina amadurecesse seus ramos,nada pode impedir a descoberta do amor.Foi num fim de tarde,quando por trás das outras casas o sol sumia sútil e vagaroso,que da última fileira saltou um jovem magro,cabelos negros como a noite e pele branca como a neve do inverno,desalinhando toda a uniformidade do batalhão de homens loiros e sardentos,e os olhos espertos da menina saltaram para ele de modo que a curiosidade deixava escapar toda a cautela,impressionada,a menina ficou estática,analisando-o de ponta a ponta,foi quando que como num fração de segundos,como numa premonição,os olhos topázio incandescentes se encontraram com a escuridão estigante vinda de trás do batalhão,se encaixando,contrastando pele com pele,osso por osso,como numa dança. E um misto de todos os tipos de sentimento tomaram conta daqueles dois corpos e também de suas almas.
E nos dias que se passaram,os sentimentos foram pousando,se unindo,transformando tudo em apenas uma coisa; amor. De cima de sua torre, a jovem judia vigia a rua a espera de seu amado,na rua,o jovem soldado tropeça nos passos e os olhos procuram incessantemente até avistar os cristais brilhando ao alto da janela da casa amarela,amaram-se por muitos anos,ela em sua torre,ele em seu exército,ela sentia que ele sabia de seu segredo,e se sabia aquilo nao parecia importar a ele muito menos a ela,o amor é capaz de tudo.

ㅤㅤ Então o lobo se apaixonou pelo cordeiro.


2 comentários:

  1. Diferente e encantador.
    Parabéns.

    (droga minhas chances de ganhar diminuiram rsrsrs)
    Brincadeira.
    gostei bastante.!

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  2. Parabéns \o/\o/
    você merecia muito mais...
    tenho certeza que na próxima alçaremos vôos maiores.
    auhsuahsuhasa

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